Iboga trata-se de um alcaloide indólico enteogênico
capaz de antagonizar e anular a ação de uma série de alcalóides ou
compostos orgânicos nitrogenados de intensa bioatividade sobre o
cérebro, como a cocaína, heroína e morfina, dentre outros.
Tabernanthe iboga - a planta
Obtida
de um arbusto da família Apocynaceae, de origem africana Tabernanthe
iboga, nas regiões do Congo e do Gabão entre os pigmeus e alguns povos
bantos, que possivelmente assimilaram essa prática pelo contato com
esses misteriosos povos da floresta que são os pigmeus, se praticam
rituais com preparados dessa planta denominado, entre as tribos Apindji e
Mitsogho, como Buiti. Outros grupos e etnias do Gabão também o utilizam
possivelmente a partir desse contato cultural.
De
acordo com a antropóloga Labate, há dois tipos de Buiti: o tradicional
que surgiu no século 19 - e o sincrético, o mais difundido, que é
produto da fusão do primeiro com elementos de outros cultos africanos e
da influência da evangelização cristã no continente no início do século
20. Possivelmente sob influência das notícias de cura, transformações
psicológicas associada à conversão religiosa e participações de
estrangeiros, o mundo ocidental tem despertado interesse sobre essa
planta e esse ritual.
Preparados
com essa planta vem sendo utilizado, com sucesso, em sessões
terapêuticas cujo objetivo é alcançar a cura completa da drogadição..
Observe-se que não são os mesmos extratos utilizados nas distintas
tribos, pois segundo a referida antropóloga são preparados mantidos em
sigilo.
Quimicamente, a iboga é classificada como uma triptamina, análoga à melatonina, estruturalmente semelhante à harmalina.
Muito
se tem falado a respeito da Iboga aqui no Brasil nos últimos
tempos... bem e mal, com discussões apaixonadas, e, às vezes,
desprovidas de cunho científico e repletas de preconceito.
Para
quem não sabe, Iboga é uma substância extraída da planta Tabernanthe
iboga, originária do Gabão, e planta sagrada utilizada nos rituais da
religião Bwiti, religião e rituais estes existentes desde a
pré-história. Em 1962 Howard Lotsof, na época dependente de heroína,
descobriu que uma única dose de Iboga foi suficiente para curar a
dependência sua e de alguns amigos. A partir daí surgiu com força uma
rede internacional de provedores de tratamentos para dependência em todo
o mundo, alguns oficiais, outros underground. Desde essa época até hoje
cerca de 10.000 pessoas já fizeram o uso médico da substância, com
resultados, em sua maioria, muito bons. Realmente os efeitos são
surpreendentes, e, em muitos casos, ocorre uma melhora do quadro de
dependência significativa, em apenas 24 horas.
Como
tudo que é diferente, e como tudo que é inovador, existem também em
relação à Iboga controvérsias e dúvidas, que tem origem na
desinformação e no preconceito, e algumas vezes também em interesses
econômicos. Este texto visa esclarecer as dúvidas e orientar as pessoas
sobre o assunto. É interessante o fato de que a maioria das pessoas que é
contra esse tratamento, não sabe absolutamente nada a respeito, mesmo
alguns sendo renomados profissionais da área. É o estilo “não li e não
gostei”. Na área da dependência química no Brasil, alguns egos são
imensos.
Sempre
que se fala de Iboga, cita-se o fato de a mesma ser proibida nos
Estados Unidos e em mais 3 ou 4 países, sendo em todos os outros
(inclusive no Brasil) isso não ocorre. Pelo contrário, o Brasil é um dos
pioneiros nesse tratamento e os profissionais envolvidos, apesar de
pouco conhecidos aqui, têm reconhecimento internacional. Essa proibição
da Iboga em poucos países deve-se à desinformação e a interesses
econômicos e políticos.
Primeiramente,
essa medicação não interessa à grande indústria farmacêutica, visto ser
derivada de plantas, com a patente de 1962 já expirada, tendo,
portanto, um baixo potencial de lucro.
Além
disso, em muitos locais, o preconceito contra os dependentes faz com
que eles sejam vistos como pessoas que não merecem serem tratadas e sim
presas ou escorraçadas. Assim sendo, o fato da Iboga ter sido
descoberta por um dependente químico, para algumas pessoas, já a
desqualifica.
Fora
isso, o falso conceito de que a planta é alucinógena, gera uma quase
histeria em determinados profissionais da área, que mal informados, com
má vontade, e baseados em informações conflitantes pinçadas na internet,
repassam informações errôneas adiante. A Iboga não é alucinógena, é
onirofrênica, (Naranjo, 1974; Goutarel, Gollnhofer, and Sillans 1993),
ou talvez seja melhor dizer, remogênica, ela estimula a mente de maneira
a fazer com que o cérebro sonhe, mesmo com a pessoa acordada. Isso é
comprovado por inúmeros estudos ao redor do mundo, mas é fácil
confirmar, basta fazer um eletroencefalograma (EEG) durante o efeito da
substância pra se ver que o padrão que vai aparecer é o do sono REM, não
de alucinações. Além disso, a iboga não se liga ao receptor 5HT 2a, o
alvo clássico de alucinógenos como LSD, por exemplo.
Outra
crítica relacionada à Tratamento Iboga, que é sempre citada, são as até agora
14 mortes que ocorreram, em 48 anos, como comentado acima, em cerca de
15000 tratamentos realizados. Isso dá menos de 1 fatalidade em cada 1000
tratamentos, número muito menor por exemplo do que as fatalidades
provocadas por metadona, que é outra substância utilizada no tratamento
da adição, e que é de 1 fatalidade para cada 350 tratamentos.
O
detalhe, sempre deixado de lado pelos detratores da Iboga, é que em
todos os casos de fatalidades registrados, comprovadamente se detectou o
uso sub-reptício concomitante de heroína, cocaína e/ou álcool,
confirmado por necropsia, o que nos leva à conclusão de que não existem
fatalidades relacionadas à Iboga e sim à heroína/cocaína/álcool e à
mistura dessas substâncias... além disso, poucas coisas no mundo são
mais mortais do que usar drogas.. isso sim é perigoso.
Mais
outra crítica é sobre o uso em humanos, sendo que no Gabão, há 5000
anos humanos já usam a substância em seus rituais, sem problemas. Já
foram feitos vários trabalhos científicos, por cientistas renomados, que
comprovam a baixa toxicidade e a segurança do tratamento, desde que
feito dentro dos protocolos.
A
taxa média de eficácia do Tratamento com iboga para dependência de
crack é de 70 a 80%, que é altíssima, principalmente se lembrarmos que,
além de ser uma doença gravíssima, as taxas de sucesso dos tratamentos
tradicionais é de 5%. Incrivelmente, essa taxa de 80% também é alvo de
críticas... Porque não são 100%, eles dizem? Já que é tão bom, porque
não cura todo mundo? Ora, nenhum tratamento médico é 100%, existem
variáveis ponderáveis e imponderáveis que influenciam a evolução dos
pacientes, como motivação, características individuais de cada paciente,
preparação adequada, com psicoterapia pré e pós tratamento de alto
nível, tudo isso faz com que haja variações na eficácia. O fato é que a
Iboga é hoje, de longe, o tratamento mais eficaz contra a dependência
que se tem notícia, em toda a história da humanidade. Feito com os
cuidados necessários, é seguro, eficaz, e não existem relatos de
sequelas, nem físicas, nem psicológicas.
Assim
sendo, pessoas que vivem da cronicidade da doença, para as quais não
interessa que haja cura e sim perpetuação do quadro, e assim,
indiretamente, perpetuação dos lucros, se insurgem contra ela.
Em toda a história da humanidade, as inovações, as mudanças de paradigma, sempre foram combatidas.
E
apenas mais um detalhe: as outras opções de tratamento, são bastante
ineficazes, para que se possa dar ao luxo de não dar à iboga a
atenção que ela merece.
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